quinta-feira, 4 de junho de 2015

Democracia Corintiana

Durante o inicio da década de 80, o Brasil, já vinha apresentando sintomas de que precisava de uma reforma política. A censura estava perdendo força e já se pensava na possibilidade de uma votação direta, pelo menos para governador. Nesse mesmo tempo, o Corinthians estava passando por dificuldades, com campanhas péssimas durante os anos de 1980 e 1981, e assim como o país, era preciso ter uma reformulação. No inicio de 1982, a presidência do clube sai das mãos do cartola Vicente Matheus e quem assume é o empresário Waldemar Pires. O novo presidente atento as péssimas campanhas do time, escolhe como diretor, um sociólogo, Adilson Monteiro Alves.
A escolha foi essencial para o time, o sociólogo passou a ouvir os jogadores e dar poder de voto á todos do clube. Não havia no Corinthians daquela época nenhum integrante do clube, de roupeiro a presidente com poder de voto maior que o outro: todas as decisões do time eram tomadas de maneira democrática. Isso significava que desde a escalação do time até a contratação ou demissão de jogadores e funcionários passava pela escolha popular de quem era parte do Corinthians entre 1982 a 1984. Era tudo o que o Brasil precisava, tanto para o futebol quanto para o país e o os jogadores perceberam isso. Além de combater o conservadorismo que regia os clubes brasileiros, os líderes da Democracia Corintiana, junto com muitos estudantes, artistas e intelectuais que participavam das campanhas pelo fim da ditadura militar no Brasil, se tornaram porta-vozes da liberdade de expressão no país.

(Jogadores do Corinthians entram em campo com uma faixa escrito – Ganhar ou Perder, mas sempre com Democracia). Fonte: http://msalx.placar.abril.com.br/2013/04/15/1136/hrWu2/faixa-irmo-celso.jpeg?1366042842
Fica claro que pensar de um modo tão simplista, que o futebol está afastado da sociedade, sendo ele somente um meio para as pessoas extravasarem e esquecerem os problemas sociais é tirar toda a importância das relações que o futebol se propõe a ter com a sociedade. Os sujeitos que entendem que o futebol é um meio de resistência, é um espaço de lutas, estão condicionados a criar relações de poder com a sociedade.
A questão do "sujeito" sempre foi um dos pontos mais polêmicos do trabalho de Foucault. Esse autor recusa a ideia do sujeito universal, portador de uma natureza atemporal, vítima das relações de poder, e em seu lugar descreve um sujeito que se constitui tanto através das formas de assujeitamento, como por meio de escolhas éticas e políticas, num movimento não só de defesa, senão de afirmação de suas opções. Afastando-se de uma visão essencialista do sujeito ou de uma substancialização do eu, Foucault propõe, em vez de um sujeito soberano, um sujeito como força criadora, completamente histórico. (SAMPAIO, 2001).
Os sujeitos da Democracia Corintiana procuraram afirmar suas opções. Para o clube, os integrantes votavam em quase tudo, desde a escalação do time até contratações. O movimento permitiu o nascimento de um modelo inédito (e nunca mais repetido) de autogestão no esporte.
Para o Brasil, se os sujeitos do movimento não tinham força para uma mudança completa, eles utilizaram do futebol para lutar e resistir. Os jogadores entravam em campo com cartazes e dizeres pedindo pela democracia e com camisas incentivando a sociedade a votar para governador[1].  Um dos criadores do movimento, o jogador Sócrates era constantemente visto em comícios lutando pela votação direta para presidente, o jogador acreditava que por meio do futebol, esporte de grande apelo popular no país, ele poderia se tornar um canalizador de informações sobre a importância e a necessidade da democracia.
E a democracia corintiana deu certa porque o Corinthians já era um time extremamente popular. O apelo do clube junto às massas foi fundamental para divulgar a necessidade da democracia no Brasil, principalmente para os torcedores mais jovens. A experiência bem sucedida do movimento, que rendeu títulos, reforçava e estimulava a luta pela redemocratização. Pela linguagem do futebol, os jogadores conseguiam mobilizar pessoas que tinham pouca formação política. A Democracia, que surgiu como uma proposta nova de relação profissional de um clube de futebol, logo se tornou um evento político.

(Torcida do Corinthians, durante um jogo de futebol pedindo votação direta para presidente – a Democracia Corintiana influenciou a torcida).



[1] Em 1982 houve a primeira votação para governador, desde o Ato Institucional 3, imposto pelo presidente Castelo Branco, em 1966.

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