Durante
o inicio da década de 80, o Brasil, já vinha apresentando sintomas de que
precisava de uma reforma política. A censura estava perdendo força e já se
pensava na possibilidade de uma votação direta, pelo menos para governador.
Nesse mesmo tempo, o Corinthians estava passando por dificuldades, com
campanhas péssimas durante os anos de 1980 e 1981, e assim como o país, era
preciso ter uma reformulação. No inicio de 1982, a presidência do clube sai das
mãos do cartola Vicente Matheus e quem assume é o empresário Waldemar Pires. O
novo presidente atento as péssimas campanhas do time, escolhe como diretor, um
sociólogo, Adilson Monteiro Alves.
A
escolha foi essencial para o time, o sociólogo passou a ouvir os jogadores e
dar poder de voto á todos do clube. Não havia no Corinthians daquela época nenhum integrante do clube, de
roupeiro a presidente com poder de voto maior que o outro: todas as decisões do
time eram tomadas de maneira democrática. Isso significava que desde a
escalação do time até a contratação ou demissão de jogadores e funcionários
passava pela escolha popular de quem era parte do Corinthians entre 1982 a
1984. Era tudo o que o Brasil precisava, tanto para o futebol quanto para o
país e o os jogadores perceberam isso. Além de combater
o conservadorismo que regia os clubes brasileiros, os líderes da Democracia
Corintiana, junto com muitos
estudantes, artistas e intelectuais que participavam das campanhas pelo fim da
ditadura militar no Brasil, se
tornaram porta-vozes da liberdade de expressão no país.
(Jogadores do Corinthians entram em campo com uma
faixa escrito – Ganhar ou Perder, mas sempre com Democracia). Fonte: http://msalx.placar.abril.com.br/2013/04/15/1136/hrWu2/faixa-irmo-celso.jpeg?1366042842
Fica claro que pensar de um modo tão simplista,
que o futebol está afastado da sociedade, sendo ele somente um meio para as
pessoas extravasarem e esquecerem os problemas sociais é tirar toda a
importância das relações que o futebol se propõe a ter com a sociedade. Os
sujeitos que entendem que o futebol é um meio de resistência, é um espaço de
lutas, estão condicionados a criar relações de poder com a sociedade.
A questão do "sujeito" sempre foi um dos pontos mais polêmicos
do trabalho de Foucault. Esse autor recusa a ideia do sujeito universal,
portador de uma natureza atemporal, vítima das relações de poder, e em seu
lugar descreve um sujeito que se constitui tanto através das formas de
assujeitamento, como por meio de escolhas éticas e políticas, num movimento não
só de defesa, senão de afirmação de suas opções. Afastando-se de uma visão
essencialista do sujeito ou de uma substancialização do eu, Foucault propõe, em
vez de um sujeito soberano, um sujeito como força criadora, completamente
histórico. (SAMPAIO, 2001).
Os sujeitos da Democracia Corintiana procuraram
afirmar suas opções. Para o clube, os integrantes votavam em quase tudo, desde
a escalação do time até contratações. O movimento permitiu o nascimento de um
modelo inédito (e nunca mais repetido) de autogestão no esporte.
Para o Brasil, se os sujeitos do movimento não
tinham força para uma mudança completa, eles utilizaram do futebol para lutar e
resistir. Os jogadores entravam em campo com cartazes e dizeres pedindo pela
democracia e com camisas incentivando a sociedade a votar para governador[1]. Um dos criadores do movimento, o jogador
Sócrates era constantemente visto em comícios lutando pela votação direta para
presidente, o jogador acreditava que
por meio do futebol, esporte de grande apelo popular no país, ele poderia se
tornar um canalizador de informações sobre a importância e a necessidade da
democracia.
E a democracia corintiana deu certa porque o
Corinthians já era um time extremamente popular. O apelo do clube junto às
massas foi fundamental para divulgar a necessidade da democracia no Brasil,
principalmente para os torcedores mais jovens. A experiência bem sucedida do
movimento, que rendeu títulos, reforçava e estimulava a luta pela
redemocratização. Pela linguagem do futebol, os jogadores conseguiam mobilizar
pessoas que tinham pouca formação política. A Democracia, que surgiu como uma
proposta nova de relação profissional de um clube de futebol, logo se tornou um
evento político.
(Torcida
do Corinthians, durante um jogo de futebol pedindo votação direta para
presidente – a Democracia Corintiana influenciou a torcida).
[1] Em 1982 houve a primeira votação para
governador, desde o Ato Institucional 3, imposto pelo presidente Castelo
Branco, em 1966.
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