domingo, 28 de junho de 2015

As Copas no Brasil da Dilma

Em 2013 e 2014, durante a Copa das Confederações e a Copa Mundo respectivamente, que ocorreram aqui no Brasil, houve manifestações de cunho político. Amparados pela grande visualização que o país ia receber durante esses dois eventos, vários manifestantes utilizaram do espaço do futebol e das duas competições mais importantes para o futebol mundial para protestar.

Os pedidos eram muitos, desde melhorias na educação e na saúde, além do passe livre nos transportes públicos até o pedido para a presidente deixar o poder. 

A Folha de São Paulo escreveu em sua capa, um dia depois da abertura da Copa das Confederações, que a presidenta Dilma havia sido vaiada. “Estréia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos.” E completou: “A presidente Dilma Rousseff foi vaiada três durante a abertura da Copa das Confederações em Brasília”.

http://pxhst.co/pictures/2555297 <acesso em 28/06/2015>


Em 2014 as vaias se repetiram no inicio da Copa do Mundo. A Folha noticiou também em sua capa: “Brasil abre a Copa com gol contra, virada e vaia a Dilma”. E continuou: “[...] A presidente Dilma Rousseff que não discursou, foi hostilizada por torcedores ao menos quatro vezes, - com vaias e xingamentos , também dirigidos a autoridades da FIFA”.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfe8HbdLULMl18Mihw-velmC4eVwoheZxRSfvFYx-qYTXncvplspS14DY9LurvTo9PmvHmZD3PSF1lySEX8uJ9QXuoovPVmFhVDGlgkF1mu0e01g320oJq29RGof0cOb1-3TlSXmkx41k/s1600/BRA_FDSP.jpg <acesso em 28/06/2015>.

As capas quase idênticas demonstram que a população brasileira entendeu que o futebol é muito maior que um espaço de dominação política e começou a usar o futebol como um espaço de luta e resistência.

domingo, 21 de junho de 2015

A Copa de 1970

A copa de 1970 é um dos eventos mais contraditórios da história do futebol e do Brasil.
Ela se passa em um momento em que o país estava completamente envolvido com a Ditadura Militar. O AI5 havia sido baixado a pouco mais de um ano e as liberdades estavam completamente cerceadas, foi o período de maior repressão durante a ditadura militar brasileira.

(Presidente Costa e Silva, responsavel pelo Ato Institucional número 5) https://historiablog.files.wordpress.com/2008/11/caprev1.jpg <acesso em 21/06/2015>

No âmbito do futebol, o Brasil tinha acabado de perder a copa de 1966 e estava sendo dominada pelos militares. Um novo tipo de seleção brasileira estava surgindo. Uma seleção onde as normas eram essenciais. O tempo de treinamento, a alimentação, o seguimento das regras e normas, além de constantes fiscalizações do governo. O governo de Médici cuidou para que a seleção tivesse um desempenho mais satisfatório, disponibilizando os melhores preparadores físicos da época. O foco, no entanto, era manter os jogadores e dirigentes da seleção sob o seu rígido controle sempre que possível. O brigadeiro Gerônio Bastos, chefe da delegação, designou o major Guaranys, um conhecido agente da repressão, para ser chefe de segurança.

Mas o que é mais interessante na copa de 1970, é que demonstra que a dicotomia entre direita e esquerda na verdade não é tão agressiva quanto os liberais e os marxistas apontam. Dentro do mesmo grupo, havia pessoas que apoiavam a ditadura, como vários jogadores, mas também havia outros que eram contra, como o próprio técnico da seleção, João Saldanha, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

A seleção brasileira foi um espaço que aproximou a sociedade e abriu espaço para uma década que acarretaria na perda de poder dos militares.

Ao mesmo tempo que o presidente Médici declarava a plenos pulmões que os heróis brasileiros estavam trazendo a taça para o Brasil, a esquerda utilizava as vitórias para ir as ruas protestar contra o governo, algo completamente impensável antes das vitórias dessa seleção.

(População brasileira sai as ruas para comemorar o titulo brasileiro de futebol da Copa de 1970, algo impensável durante a ditadura militar.) https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi05e8ygwvb1t58oYaFHUC0TtDR8Vb8xdVFn1RaY8F6ZTNvYXxu9cCftPzvcKJQUbTWfLEWj1L062csGxnMX0IE9e0BUOkgvtaNHxirNAE62K5PYL3z8kdOKl2ado9NSLCcqw8DY4HSLkMg/s1600/Vale+do+Anhangaba%C3%BA+em+S%C3%A3o+Paulo+-+500.jpg <acesso 21/06/2015).




quarta-feira, 10 de junho de 2015

Istanbul United


 (Integrantes das torcidas do Fenerbahçe, Besiktas e Galatasaray se uniram em 2013 para lutar contra as ações do governo).

Na Turquia, em 2013, o governo turco tentou demolir um parque para construir um shopping no centro de Istambul. Insatisfeitos, a população turca se revoltou e houve uma série de protestos. O interessante nesse caso é que os protestos começaram dentro dos estádios de futebol e saíram dos limites dos estádios e tomaram as ruas.
Fernerbahçe,Besiktas e Galastasaray são os principais clubes de futebol da Turquia e seus jogos são marcados pela violência e rivalidade dentro e fora do campo. Mas em 2013, seus torcedores, assumiram outra camisa, que apesar de ser um clube fictício, demonstrou que o futebol serviu como um espaço de união e de resistência da sociedade.
O Istanbul United foi o símbolo dessa resistência turca contra o governo. A tentativa de demolição do parque foi o estopim para a união desses torcedores que agora tentam a renuncia do primeiro ministro. O Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado não apenas pela truculência da polícia, que utilizou tanques e bombas de gás lacrimogêneo contra protestos que eram pacíficos. A população também reclama do governo conservador, que cria leis que regulam do uso de álcool a sinais público de afeto. Além disso, a posição contrária ao governo da Síria tem como conseqüência um maior número de atentados na Turquia e a sensação de insegurança.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Democracia Corintiana

Durante o inicio da década de 80, o Brasil, já vinha apresentando sintomas de que precisava de uma reforma política. A censura estava perdendo força e já se pensava na possibilidade de uma votação direta, pelo menos para governador. Nesse mesmo tempo, o Corinthians estava passando por dificuldades, com campanhas péssimas durante os anos de 1980 e 1981, e assim como o país, era preciso ter uma reformulação. No inicio de 1982, a presidência do clube sai das mãos do cartola Vicente Matheus e quem assume é o empresário Waldemar Pires. O novo presidente atento as péssimas campanhas do time, escolhe como diretor, um sociólogo, Adilson Monteiro Alves.
A escolha foi essencial para o time, o sociólogo passou a ouvir os jogadores e dar poder de voto á todos do clube. Não havia no Corinthians daquela época nenhum integrante do clube, de roupeiro a presidente com poder de voto maior que o outro: todas as decisões do time eram tomadas de maneira democrática. Isso significava que desde a escalação do time até a contratação ou demissão de jogadores e funcionários passava pela escolha popular de quem era parte do Corinthians entre 1982 a 1984. Era tudo o que o Brasil precisava, tanto para o futebol quanto para o país e o os jogadores perceberam isso. Além de combater o conservadorismo que regia os clubes brasileiros, os líderes da Democracia Corintiana, junto com muitos estudantes, artistas e intelectuais que participavam das campanhas pelo fim da ditadura militar no Brasil, se tornaram porta-vozes da liberdade de expressão no país.

(Jogadores do Corinthians entram em campo com uma faixa escrito – Ganhar ou Perder, mas sempre com Democracia). Fonte: http://msalx.placar.abril.com.br/2013/04/15/1136/hrWu2/faixa-irmo-celso.jpeg?1366042842
Fica claro que pensar de um modo tão simplista, que o futebol está afastado da sociedade, sendo ele somente um meio para as pessoas extravasarem e esquecerem os problemas sociais é tirar toda a importância das relações que o futebol se propõe a ter com a sociedade. Os sujeitos que entendem que o futebol é um meio de resistência, é um espaço de lutas, estão condicionados a criar relações de poder com a sociedade.
A questão do "sujeito" sempre foi um dos pontos mais polêmicos do trabalho de Foucault. Esse autor recusa a ideia do sujeito universal, portador de uma natureza atemporal, vítima das relações de poder, e em seu lugar descreve um sujeito que se constitui tanto através das formas de assujeitamento, como por meio de escolhas éticas e políticas, num movimento não só de defesa, senão de afirmação de suas opções. Afastando-se de uma visão essencialista do sujeito ou de uma substancialização do eu, Foucault propõe, em vez de um sujeito soberano, um sujeito como força criadora, completamente histórico. (SAMPAIO, 2001).
Os sujeitos da Democracia Corintiana procuraram afirmar suas opções. Para o clube, os integrantes votavam em quase tudo, desde a escalação do time até contratações. O movimento permitiu o nascimento de um modelo inédito (e nunca mais repetido) de autogestão no esporte.
Para o Brasil, se os sujeitos do movimento não tinham força para uma mudança completa, eles utilizaram do futebol para lutar e resistir. Os jogadores entravam em campo com cartazes e dizeres pedindo pela democracia e com camisas incentivando a sociedade a votar para governador[1].  Um dos criadores do movimento, o jogador Sócrates era constantemente visto em comícios lutando pela votação direta para presidente, o jogador acreditava que por meio do futebol, esporte de grande apelo popular no país, ele poderia se tornar um canalizador de informações sobre a importância e a necessidade da democracia.
E a democracia corintiana deu certa porque o Corinthians já era um time extremamente popular. O apelo do clube junto às massas foi fundamental para divulgar a necessidade da democracia no Brasil, principalmente para os torcedores mais jovens. A experiência bem sucedida do movimento, que rendeu títulos, reforçava e estimulava a luta pela redemocratização. Pela linguagem do futebol, os jogadores conseguiam mobilizar pessoas que tinham pouca formação política. A Democracia, que surgiu como uma proposta nova de relação profissional de um clube de futebol, logo se tornou um evento político.

(Torcida do Corinthians, durante um jogo de futebol pedindo votação direta para presidente – a Democracia Corintiana influenciou a torcida).



[1] Em 1982 houve a primeira votação para governador, desde o Ato Institucional 3, imposto pelo presidente Castelo Branco, em 1966.