domingo, 28 de junho de 2015

As Copas no Brasil da Dilma

Em 2013 e 2014, durante a Copa das Confederações e a Copa Mundo respectivamente, que ocorreram aqui no Brasil, houve manifestações de cunho político. Amparados pela grande visualização que o país ia receber durante esses dois eventos, vários manifestantes utilizaram do espaço do futebol e das duas competições mais importantes para o futebol mundial para protestar.

Os pedidos eram muitos, desde melhorias na educação e na saúde, além do passe livre nos transportes públicos até o pedido para a presidente deixar o poder. 

A Folha de São Paulo escreveu em sua capa, um dia depois da abertura da Copa das Confederações, que a presidenta Dilma havia sido vaiada. “Estréia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos.” E completou: “A presidente Dilma Rousseff foi vaiada três durante a abertura da Copa das Confederações em Brasília”.

http://pxhst.co/pictures/2555297 <acesso em 28/06/2015>


Em 2014 as vaias se repetiram no inicio da Copa do Mundo. A Folha noticiou também em sua capa: “Brasil abre a Copa com gol contra, virada e vaia a Dilma”. E continuou: “[...] A presidente Dilma Rousseff que não discursou, foi hostilizada por torcedores ao menos quatro vezes, - com vaias e xingamentos , também dirigidos a autoridades da FIFA”.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfe8HbdLULMl18Mihw-velmC4eVwoheZxRSfvFYx-qYTXncvplspS14DY9LurvTo9PmvHmZD3PSF1lySEX8uJ9QXuoovPVmFhVDGlgkF1mu0e01g320oJq29RGof0cOb1-3TlSXmkx41k/s1600/BRA_FDSP.jpg <acesso em 28/06/2015>.

As capas quase idênticas demonstram que a população brasileira entendeu que o futebol é muito maior que um espaço de dominação política e começou a usar o futebol como um espaço de luta e resistência.

domingo, 21 de junho de 2015

A Copa de 1970

A copa de 1970 é um dos eventos mais contraditórios da história do futebol e do Brasil.
Ela se passa em um momento em que o país estava completamente envolvido com a Ditadura Militar. O AI5 havia sido baixado a pouco mais de um ano e as liberdades estavam completamente cerceadas, foi o período de maior repressão durante a ditadura militar brasileira.

(Presidente Costa e Silva, responsavel pelo Ato Institucional número 5) https://historiablog.files.wordpress.com/2008/11/caprev1.jpg <acesso em 21/06/2015>

No âmbito do futebol, o Brasil tinha acabado de perder a copa de 1966 e estava sendo dominada pelos militares. Um novo tipo de seleção brasileira estava surgindo. Uma seleção onde as normas eram essenciais. O tempo de treinamento, a alimentação, o seguimento das regras e normas, além de constantes fiscalizações do governo. O governo de Médici cuidou para que a seleção tivesse um desempenho mais satisfatório, disponibilizando os melhores preparadores físicos da época. O foco, no entanto, era manter os jogadores e dirigentes da seleção sob o seu rígido controle sempre que possível. O brigadeiro Gerônio Bastos, chefe da delegação, designou o major Guaranys, um conhecido agente da repressão, para ser chefe de segurança.

Mas o que é mais interessante na copa de 1970, é que demonstra que a dicotomia entre direita e esquerda na verdade não é tão agressiva quanto os liberais e os marxistas apontam. Dentro do mesmo grupo, havia pessoas que apoiavam a ditadura, como vários jogadores, mas também havia outros que eram contra, como o próprio técnico da seleção, João Saldanha, membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

A seleção brasileira foi um espaço que aproximou a sociedade e abriu espaço para uma década que acarretaria na perda de poder dos militares.

Ao mesmo tempo que o presidente Médici declarava a plenos pulmões que os heróis brasileiros estavam trazendo a taça para o Brasil, a esquerda utilizava as vitórias para ir as ruas protestar contra o governo, algo completamente impensável antes das vitórias dessa seleção.

(População brasileira sai as ruas para comemorar o titulo brasileiro de futebol da Copa de 1970, algo impensável durante a ditadura militar.) https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi05e8ygwvb1t58oYaFHUC0TtDR8Vb8xdVFn1RaY8F6ZTNvYXxu9cCftPzvcKJQUbTWfLEWj1L062csGxnMX0IE9e0BUOkgvtaNHxirNAE62K5PYL3z8kdOKl2ado9NSLCcqw8DY4HSLkMg/s1600/Vale+do+Anhangaba%C3%BA+em+S%C3%A3o+Paulo+-+500.jpg <acesso 21/06/2015).




quarta-feira, 10 de junho de 2015

Istanbul United


 (Integrantes das torcidas do Fenerbahçe, Besiktas e Galatasaray se uniram em 2013 para lutar contra as ações do governo).

Na Turquia, em 2013, o governo turco tentou demolir um parque para construir um shopping no centro de Istambul. Insatisfeitos, a população turca se revoltou e houve uma série de protestos. O interessante nesse caso é que os protestos começaram dentro dos estádios de futebol e saíram dos limites dos estádios e tomaram as ruas.
Fernerbahçe,Besiktas e Galastasaray são os principais clubes de futebol da Turquia e seus jogos são marcados pela violência e rivalidade dentro e fora do campo. Mas em 2013, seus torcedores, assumiram outra camisa, que apesar de ser um clube fictício, demonstrou que o futebol serviu como um espaço de união e de resistência da sociedade.
O Istanbul United foi o símbolo dessa resistência turca contra o governo. A tentativa de demolição do parque foi o estopim para a união desses torcedores que agora tentam a renuncia do primeiro ministro. O Primeiro Ministro Recep Tayyip Erdogan é acusado não apenas pela truculência da polícia, que utilizou tanques e bombas de gás lacrimogêneo contra protestos que eram pacíficos. A população também reclama do governo conservador, que cria leis que regulam do uso de álcool a sinais público de afeto. Além disso, a posição contrária ao governo da Síria tem como conseqüência um maior número de atentados na Turquia e a sensação de insegurança.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Democracia Corintiana

Durante o inicio da década de 80, o Brasil, já vinha apresentando sintomas de que precisava de uma reforma política. A censura estava perdendo força e já se pensava na possibilidade de uma votação direta, pelo menos para governador. Nesse mesmo tempo, o Corinthians estava passando por dificuldades, com campanhas péssimas durante os anos de 1980 e 1981, e assim como o país, era preciso ter uma reformulação. No inicio de 1982, a presidência do clube sai das mãos do cartola Vicente Matheus e quem assume é o empresário Waldemar Pires. O novo presidente atento as péssimas campanhas do time, escolhe como diretor, um sociólogo, Adilson Monteiro Alves.
A escolha foi essencial para o time, o sociólogo passou a ouvir os jogadores e dar poder de voto á todos do clube. Não havia no Corinthians daquela época nenhum integrante do clube, de roupeiro a presidente com poder de voto maior que o outro: todas as decisões do time eram tomadas de maneira democrática. Isso significava que desde a escalação do time até a contratação ou demissão de jogadores e funcionários passava pela escolha popular de quem era parte do Corinthians entre 1982 a 1984. Era tudo o que o Brasil precisava, tanto para o futebol quanto para o país e o os jogadores perceberam isso. Além de combater o conservadorismo que regia os clubes brasileiros, os líderes da Democracia Corintiana, junto com muitos estudantes, artistas e intelectuais que participavam das campanhas pelo fim da ditadura militar no Brasil, se tornaram porta-vozes da liberdade de expressão no país.

(Jogadores do Corinthians entram em campo com uma faixa escrito – Ganhar ou Perder, mas sempre com Democracia). Fonte: http://msalx.placar.abril.com.br/2013/04/15/1136/hrWu2/faixa-irmo-celso.jpeg?1366042842
Fica claro que pensar de um modo tão simplista, que o futebol está afastado da sociedade, sendo ele somente um meio para as pessoas extravasarem e esquecerem os problemas sociais é tirar toda a importância das relações que o futebol se propõe a ter com a sociedade. Os sujeitos que entendem que o futebol é um meio de resistência, é um espaço de lutas, estão condicionados a criar relações de poder com a sociedade.
A questão do "sujeito" sempre foi um dos pontos mais polêmicos do trabalho de Foucault. Esse autor recusa a ideia do sujeito universal, portador de uma natureza atemporal, vítima das relações de poder, e em seu lugar descreve um sujeito que se constitui tanto através das formas de assujeitamento, como por meio de escolhas éticas e políticas, num movimento não só de defesa, senão de afirmação de suas opções. Afastando-se de uma visão essencialista do sujeito ou de uma substancialização do eu, Foucault propõe, em vez de um sujeito soberano, um sujeito como força criadora, completamente histórico. (SAMPAIO, 2001).
Os sujeitos da Democracia Corintiana procuraram afirmar suas opções. Para o clube, os integrantes votavam em quase tudo, desde a escalação do time até contratações. O movimento permitiu o nascimento de um modelo inédito (e nunca mais repetido) de autogestão no esporte.
Para o Brasil, se os sujeitos do movimento não tinham força para uma mudança completa, eles utilizaram do futebol para lutar e resistir. Os jogadores entravam em campo com cartazes e dizeres pedindo pela democracia e com camisas incentivando a sociedade a votar para governador[1].  Um dos criadores do movimento, o jogador Sócrates era constantemente visto em comícios lutando pela votação direta para presidente, o jogador acreditava que por meio do futebol, esporte de grande apelo popular no país, ele poderia se tornar um canalizador de informações sobre a importância e a necessidade da democracia.
E a democracia corintiana deu certa porque o Corinthians já era um time extremamente popular. O apelo do clube junto às massas foi fundamental para divulgar a necessidade da democracia no Brasil, principalmente para os torcedores mais jovens. A experiência bem sucedida do movimento, que rendeu títulos, reforçava e estimulava a luta pela redemocratização. Pela linguagem do futebol, os jogadores conseguiam mobilizar pessoas que tinham pouca formação política. A Democracia, que surgiu como uma proposta nova de relação profissional de um clube de futebol, logo se tornou um evento político.

(Torcida do Corinthians, durante um jogo de futebol pedindo votação direta para presidente – a Democracia Corintiana influenciou a torcida).



[1] Em 1982 houve a primeira votação para governador, desde o Ato Institucional 3, imposto pelo presidente Castelo Branco, em 1966.

sábado, 30 de maio de 2015

A resistência negra no futebol brasileiro.

O Brasil é um país singular, desde o começo da escravidão, o país foi um dos que mais receberam negros vindo da África, mas após a abolição da escravatura, os negros agora livres, continuavam à margem da sociedade. Mas como em todo a sociedade, o futebol também se popularizou perante os negros, de inicio, de acordo com Santos, os negros começaram a praticar o futebol para não serem molestados pela policia, já que as forças policiais apresentavam restrições à capoeira, pois todas as manifestações culturais “não-brancas” foram sistematicamente desqualificadas como símbolo de selvageria, de propriedade de um mundo maligno e essencialmente sensual, primitivo, que não tinha capacidade na perspectiva oficial de "europeização". Os ritos do candomblé, da capoeira e do samba, práticas todas elas de origem afro-brasileira, foram totalmente proibidas e severamente reprimidas no espaço público.

O futebol foi uma das únicas coisas que sobraram, talvez porque era um esporte europeu. Mas mesmo com a facilidade de pratica-lo, o negro, o mulato, o pobre não tinha, espaço nos clubes brasileiros, mas isso estava mudando.

Já durante as primeiras décadas de futebol no Brasil ficou claro que a não aceitação do negro nesse espaço seria prejudicial à nação. E um jogador em especial foi essencial para essa percepção. Arthur Friedenreich, filho de um alemão e uma brasileira, negra, ex-escrava. De acordo com registros da época, ele possuía os traços da sua mãe e os olhos de cor verde de seu pai. Friedenreich praticava futebol desde criança e se tornou um craque, “o mulato jogava bola como nenhum outro de sua época” [...] (GUTERMAN, 2009, p. 43). Ele foi um dos primeiros negros a fazer sucesso no futebol brasileiro.

(Friedenreich) https://tardesdepacaembu.files.wordpress.com/2013/05/imagem218.png <acesso em 30/05/2015>


No entanto, antes de ser aceito num espaço para a elite branca brasileira como um negro, Friedenreich utilizava de artifícios para poder jogar futebol sendo negro. Ele procurava alisar o seu cabelo para que fosse aceito no mundo do futebol. Apesar de parecer algo inaceitável na nossa sociedade, o que Friedenreich procurava era o que todo negro naquela época sonhava, a aceitação de uma sociedade explicitamente racista. Alisar os seus cabelos foi uma forma de resistência que pode abrir as portas para o negro no futebol brasileiro.

Outros jogadores utilizaram de artifícios para disfarçar a cor e poder jogar futebol sem serem incomodados. Carlos Alberto do Fluminense, mulato, passava pó de arroz no rosto, deixando-o mais branco.

(Imagem de uma novela da globo que retrata um negro passando pó de arroz no rosto para jogar futebol). http://imguol.com/blogs/2/files/2013/02/ladoaladofutebol3.jpg <acesso em 30/05/2015>


A miscigenação da sociedade abrasileirou o futebol e apresentou características que só poderiam ter aparecido nas terras tupiniquins, com as sociedades que aqui se faziam presente, explicando o sucesso que o esporte alcançou nos pés dos brasileiros. Só que em uma sociedade que acabara de sair da escravidão, o racismo era uma dos principais pilastras de sua base e o negro não era aceito em vários mundos da sociedade, o mundo do futebol estava entre esses. Mas o futebol foi um fator essencial de luta e espaço de resistência para os negros no Brasil, foi através do futebol que o negro pode demonstrar seu valor.
Desaparecera a vantagem de ser de boa família, de ser estudante, de ser branco. O rapaz de boa família, o estudante, o branco, tinha que competir, em igualdade de condições, com o pé-rapado, quase analfabeto, o mulato e o preto para ver quem jogava melhor. Era uma verdadeira revolução que se operava no futebol brasileiro. (MARIO FILHO, 2003 apud GUTERMAN 2009, p.55)

E a seleção brasileira também foi responsável por apresentar a sociedade brasileira, o quanto o futebol necessitava do negro. Em 1919, no Sul-Americano, realizado no Brasil, Friedenreich fez o gol brasileiro na final, em cima do Uruguai, aos olhos de grande parte da elite brasileira, que abraçou o campeonato e viu um negro ser a sensação da final.

A partir desse gol de Fried, o Brasil notou que seus negros e seus pobres (o que quase dava no mesmo) podiam ter algum valor. O país, inebriado pela conquista inédita, enamorado de seu craque exótico e já com sintomas evidentes de estar tomado pela febre do futebol, concedeu que esse esporte havia transbordado as muralhas dos clubes de ricos brancos, ainda que estes não suportassem essa ideia, resistindo a ela o quanto podiam. (GUTERMAN, 2009, p.46)

O sentimento de união que a seleção brasileira proporcionou a sociedade mudou profundamente sua visão em relação ao negro e ao pobre. Em 1930, a seleção brasileira disputava sua a primeira Copa do Mundo, no Uruguai. Ganhar a copa significava demonstrar o poder do Brasil perante os outros países e para isso o país precisava mandar os seus melhores jogadores, mesmo se fossem pobres ou negros. Em 1938 foi a consolidação do negro no futebol brasileiro. Disputada na França o país enviou o que tinha de melhor pois estava disposto a conseguir o titulo.

A seleção que disputou a Copa de 1938 foi a perfeita tradução dos objetivos do varguismo. Sua formação incluiu jogadores negros e brancos, inspirando conclusões sobre as vantagens da miscigenação brasileira, inclusive no que dizia respeito à harmonia social, tão perseguida pelo regime. Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”, era o símbolo de um time feito para levar ao mundo a força de um país que se afirmava como singular [...]. (GUTERMAN, 2009, p.81).

Mesmo com a derrota nas semifinais para a Itália, a seleção brasileira passou por adversários como a Polônia e a Tchecoslováquia e encantou a sociedade brasileira. Gilberto Freyre escreveu: “Creio que uma das condições da vitoria dos brasileiros nos encontros europeus prende-se ao fato de termos tido a coragem de mandar à Europa desta vez um team francamente afro-brasileiro”.[1]  

A miscigenação brasileira criou um país singular e sua influencia não foi diferente. Tínhamos e temos aqui tanto no futebol quanto na sociedade, a presença de raízes europeias, indígenas e negras. Mas a copa de 38 foi a demonstração para o mundo todo, que o Brasil tinha passado por cima do preconceito e do racismo e que tinha construído a sua sociedade amparada nas raças existentes aqui.  A grande exibição da seleção brasileira fez com que “a mestiçagem e a negritude” passassem “a ser vistas como valor positivo e não mais negativo. (HELAL; GORDON JR, 1993, p.155).

O negro tinha conseguido, através do futebol ele conseguiu ser notado e ter importância, algo que ele não tinha conseguido em outros campos sociais. Foi o futebol e as conquistas dos negros dentro do esporte que fizeram a sociedade o aceitar. O futebol foi um espaço de resistência negra durante as primeiras décadas do século XX

(Seleção Brasileira de 1958, foto oficial do primeiro titulo em Copas do Mundo, metade do time titular era formado por negros). http://mochileiro.tur.br/copa-1958.htm <acesso em 30/05/2015>



[1] Correio da Manhã, Rio, 15/06/1938, p. 6. 

Referencias: GUTERMAN, Marcos. O futebol explica o Brasil. São Paulo: Contexto, 2009

domingo, 24 de maio de 2015

Porque o futebol?

Porque escolhemos o futebol? Essa é uma pergunta que deixamos para responder depois de utilizar um exemplo como o clássico Real Madrid x Barcelona
O Brasil é o país do futebol. Marcos Guterman em sua dissertação de mestrado apresenta:

Diz-se que um menino brasileiro, ao nascer, recebe um nome para honrar, uma crença religiosa para seguir e um time de futebol para torcer. Ignorar qualquer uma dessas três heranças é visto como uma inominável traição. A importância do futebol, portanto, o coloca como elemento fundamental para a compreensão do mundo brasileiro, e isso obviamente inclui o campo da política. (GUTERMAN, 2006. p.9)

http://www.patriciainoue.com/images/bb/book-para-bebe-cenario-copa-Brasil-patricia-inoue-02.png <acesso em 24/05/2015>


O futebol faz parte da cultura, da sociedade e da politica brasileira. Todos os nossos alunos conhecem o futebol, muitos possuem um time para torcer e aqueles que não possuem, dizem que torcem para a seleção brasileira. O futebol está enraizado no Brasil, as mudanças sociais, politicas e econômicas são influenciadas pelo futebol. Mas o que anda acontecendo em vários estudos sobre o futebol, somente é apresentado o fator de união nacional e consequentemente o uso do esporte para a manipulação da massas.

Ficou bem claro no clássico Real Madrix x Barcelona que é impossível pensar no esporte somente como um uso para a manipulação das massas.
As massas quando se apropriam do futebol e percebem que ele é mais que um esporte, é um fator de luta e resistência, utilizam ele de um modo magico, que une a paixão com a vontade.

E é isso que queremos demonstrar para nossos alunos, que o futebol é um espaço de resistência e luta e deve ser estudado assim.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Barcelona x Real Madrid - Independência da Catalunha?

         
 (Jogo entre Barcelona e Real Madrid, disputado no Camp Nou – Campo do Barcelona – é possível ver as bandeiras da Catalunha e um mosaico formado por torcedores pedindo a independência da região).

           De início, trazemos o exemplo do maior clássico da atualidade no futebol mundial e como esse clássico ultrapassa a esfera esportiva e entra na esfera política, demonstrando que o futebol é uma continuação da sociedade.
Na Espanha, apesar de poucas notícias atuais sobre a violência no clássico Real Madrid e Barcelona, ele já foi muito violento, muito culpa da Guerra Civil Espanhola, que assolou a Espanha na segunda metade da década de 30.
Criado em 1902, o Madrid FútBoll Club, na capital espanhola, o clube caiu nas graças da monarquia espanhola, nas primeiras décadas do século XX e ganhou em 1920, do Rei Alfonso XIII, um símbolo importante de poder monárquico, uma coroa, que foi posta em seu escudo. Para se afirmar como um time da monarquia, a sigla “Real” foi introduzida, fazendo com que o time da capital Madrid, mudasse o nome para Real Madrid Club Fútbol. Um pouco antes, em 1899 o Fútbol Club Barcelona é criado na cidade de Barcelona. Durante as primeiras partidas, ainda era possível ver o cavalheirismo entre os dois clubes, fruto do sentimento de fair play que ainda estava em alta nos jogos de futebol.
No entanto, o sentimento de disputa entre os cidadãos de Madrid e Barcelona é mais antigo que os próprios times ou o futebol moderno. Durante a Idade Média, o reino de Castela, onde fica a cidade de Madrid, e o reino de Catalunha, onde fica Barcelona foram inimigos e no episodio conhecido como Guerra da Sucessão Espanhola, com a derrota da Catalunha, ela teve que se render as tropas do Felipe V de Espanha. O novo rei incorporou os territórios da Catalunha aos da Espanha. A região deixou de ter um Estado próprio e perdeu seus direitos, além de ter suas universidades fechadas e o uso da língua catalã ser proibida a partir de então. 
(Regiões da Espanha na Idade Média) http://deconceptos.com/wp-content/uploads/2008/12/regiones-de-espana.gif <acesso em 18/052015>

 As desavenças continuaram, mas somente após a Guerra Civil Espanhola é que o futebol se tornou um espaço de resistência entre os catalães que procuram a independência do território catalão e os espanhóis que defendem a unidade do país.
No inicio da década de 30, com a criação da Segunda República Espanhola, a região da Catalunha conseguiu se tornar uma comunidade autônoma da Espanha, onde poderia exercer o seu nacionalismo e a sua cultura. Mas isso durou somente até o a metade da década. Veio a Guerra Civil Espanhola, que trouxe à tona as antigas disputas entre os reinos de Castela e Catalunha. Preocupados com a tendência de esquerda que surgiu no mundo durante a primeira metade do século XX, o grupo comandado pelo General Francisco Franco tentou dar um golpe de estado. Sem êxito, a Espanha ficou dividida entre aqueles a favor do golpe e contra o golpe, causando assim uma guerra civil que durou cerca de 4 anos. Franco acabou conseguindo a vitória e retirou a autonomia daqueles estados que a tinham conseguido durante a Segunda República Espanhola, inclusive realizando pesada repressão à eles.
Terminada a longa e sangrenta guerra civil espanhola (1936 – 1939, quase 1 milhão de mortos), o ditador Francisco Franco tentou impor a todos os setores da vida nacional uniformidade que superasse a profunda divisão dos anos anteriores. Proibiu-se por exemplo, o ensino e mesmo o uso público das línguas regionais para defender o castelhano, idioma oficial e tornado sinônimo de “espanhol” (quanto a rigor existem vários falares espanhóis, como catalão, basco, galego, asturiano). (FRANCO JÚNIOR, 2007, p.104).
Proibidos de se rebelarem contra o governo, as regiões antifranquistas, como por exemplo, a região da Catalunha, procuraram utilizar outros meios para resistir às sanções impostas pelo ditador. As artes, como a literatura e a pintura demonstraram as atrocidades cometidas pelo atual governo, que bombardeou a cidade de Barcelona, atingindo a sede do clube. Além das artes, o futebol também se tornou um símbolo essencial para buscar a independência do território, pois foi através dele que os sujeitos puderam extravasar suas vontades.
[...] Ora, o separatismo anticastelhano e antifranquista vinha, sobretudo de bascos e catalães, exatamente aqueles que dominavam o futebol espanhol [...] O Barcelona, sobretudo, tornou-se o maior símbolo antifranquista. O escudo do clube traz as cores da bandeira da Catalunha e de certa forma é outra bandeira da comunidade. (FRANCO JÚNIOR, 2007, p.104).
Invasões Franquistas à Barcelona durante a Guerra Civil Espanhola
http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=87 <acesso em 18/05/2015>

É o que diz o slogan do Barcelona, “més que un club”, ou em português, mas que um clube, um símbolo político da resistência catalã contra a Espanha, a tentativa de através do futebol levar ao planeta a vontade de se tornar livre de um estado que para eles, não os representa.

http://spainticketsonline.info/wp-content/uploads/2012/02/mes-q-2.jpg <acesso em 18/05/2015>

A torcida do Barcelona não espera os jogos contra o seu maior rival, para protestar. Em todo jogo, além de bandeiras da Catalunha e pedidos de independência, a torcida demonstra que não esqueceu os episódios ocorridos durante a Guerra de Sucessão Espanhola, e aos 17 minutos e 14 segundos do primeiro tempo, se juntam para exaltar o ano de 1714, quando os catalães ao final da guerra, tentaram um levante contra a coroa espanhola, foram cruelmente sufocados.
Já o time do Real Madrid, que de time do rei, passou a time do ditador e agora é o time que representa a Espanha, representa para seus torcedores a vontade da capital, em manter sobre controle as regiões que procuram a independência. É possível ver em todos os jogos do time madridista a bandeira da Espanha, o respeito ao hino e ao rei espanhol, claramente indo contra os separatistas. O clube é um sinônimo de força espanhola.

Mas é no clássico entre Barcelona e Real Madrid que as diferenças são acentuadas. A grande audiência dos últimos anos, quando o clássico deixou de ser espanhol e passou a ser mundial, pode ser uma explicação para nós, que não vivemos as disputas políticas entre os espanhóis e os catalães, mas para os espanhóis e também os catalães a explicação é que os times representam muito mais que um clube, eles representam toda uma sociedade que busca no futebol um espaço de resistência.

Referencia: FRANCO JÚNIOR, Hilário. A dança dos deuses: futebol, cultura, sociedade. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Nesse sentido, quando apresentamos o clássico entre Real Madrid x Barcelona, demonstramos os alunos a ideia de um espaço onde  é possível lutar pela independência e pelo o que deseja. É interessante, que os alunos passam por vários seculos de história. Desde a idade média, que demonstrava que a rivalidade não é somente futebolística, até o inicio do século XX, onde entra na Guerra Civil e as mortes que ocorreram, chegando por fim na esfera do futebol.